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Coluna do Rafa: Por que as novelas brasileiras ficaram de fora do Emmy internacional?
Por Rafael Barbosa
Hoje (19), acontece em Nova York a 46ª cerimônia de premiação do Emmy Internacional, o “Oscar da televisão”, como alguns chamam. Pela primeira vez em oito anos, o Brasil – entende-se Rede Globo – não estará concorrendo na categoria telenovela. Mas por qual razão, em um ano com produções como “A força do querer” e “Novo mundo”, as novelas brasileiras ficaram de fora da entrega dos prêmios?
O prêmio emmy internacional acontece desde 1973, mas só em 2008 foi inaugurada uma categoria destinada à novela. Considerada a maior produtora do gênero do mundo, não foi surpresa o fato da Globo ter vencido quase todas as edições das quais participou – das oito vezes indicada, venceu seis. A cada ano, o público sempre fica na expectativa para saber quais os títulos concorrerão ao prêmio, aliás, antes das novelas passarem a ser reconhecidas, ninguém aqui prestava tanta atenção na premiação. Esse ano, a ausência de uma produção brasileira entre os indicados surpreendeu e caiu como um banho de água fria para os noveleiros de plantão.
Histórico da Globo na premiação
O primeiro emmy da vênus platinada veio em 2009, com a vitória da novela “Caminho das Índias” de Glória Perez. De lá para cá, com exceção de 2010, em que nenhuma produção foi indicada, a emissora conquistou mais cinco troféus, com as novelas: O astro (2012), Lado a Lado (2013), Jóia rara (2014), Império (2015) e Verdades secretas (2016). Se contar com a vencedora da premiação de 2011, a portuguesa Laços de Sangue, produzida em parceria com a SIC, são ao todo sete vitórias. No ano passado, foram duas indicações: “Velho chico” e “Totalmente demais”, mas após vencer tantas vezes consecutivamente, a globo acabou desbancada pela série dramática turca, “Kara Sevda”.
Seria a derrota no ano passado, somada as novelas ignoradas na premiação deste ano, um sinal de que o Brasil já não é mais o favorito da categoria? Seria esse um alerta de que a produção de novelas brasileiras precisa passar por algum tipo de revisão ou reformulação? Vejamos!
As tramas que poderiam ter concorrido
As regras para as inscrições da premiação, estabelecem que só podem ser inscritas as produções que foram ao ar exclusivamente em 2017 ou que tenham sido exibidas a maior parte do tempo no mesmo ano. Sendo assim, entram nessa categoria novelas que estrearam no fim de 2016, mas que foram concluídas em 2017 e as que começaram em 2017 e encerraram no início deste ano, antes do período de inscrições em fevereiro. De acordo com esses critérios, poderiam então ter concorrido: “Rock Story”, “A força do querer”, “Novo mundo”, “Os dias eram assim” e “Pega pega”.
Analisando os títulos citados acima, não se pode dizer que 2017 foi um ano ruim para as novelas. Analisando a repercussão, a opinião da crítica especializada e os números de audiência, percebe-se que pelo menos em algum desses quesitos, essas tramas atingiram bons resultados.
Rock Story, da estreante Maria Helena Nascimento, chegou a agradar público e crítica com uma trama musical que, segundo alguns, deu nova roupagem aos recursos mais manjados do gênero, investindo em tipos humanos, contraditórios e sem qualquer maniqueísmo. A autora foi muito elogiada por conseguir desenvolver uma trama com um ritmo ágil em um roteiro que não deixou a novela perder o fôlego enquanto esteve no ar, prendendo o público. Essa poderia ter sido a primeira novela das sete a levar um emmy, certo? Talvez! Mesmo considerada por muitos uma boa novela, analisando as tramas que já venceram, Rock Story não se enquadra muito no estilo de novela que o Emmy internacional costuma privilegiar.
Dessa lista, “Os dias eram assim” e “Pega Pega”, disputam por baixo e dificilmente seriam indicadas. São evidentemente duas boas produções em termos de direção, elenco, cenografia, figurino e trilha sonora, mas que ficaram devendo em muitos outros aspectos. Os dias eram assim, a “supersérie”, até poderia ser uma candidata em potencial, mas cometeu falhas em sua tentativa de reconstituir os anos 70 e 80, além de uma trama que foi muito superficial em sua proposta de abordar o período da ditadura, se sustentando em cima de uma história fraca e batida. Pega Pega foi outra novela muito criticada, que cumpriu o objetivo de entreter, mas que não marcou, sendo acusada de oferecer uma história mal desenvolvida e sem consistência. Ambas conquistaram boa audiência, mas esse também não é um critério forte a ser considerado quando se trata do emmy.
As ausências mais sentidas, talvez tenham sido as de Novo Mundo e de A força do querer. A primeira, exibida as seis, agradou grande parte dos telespectadores com uma grande produção de época que conseguiu aliar elementos de filmes de aventura com piratas à uma história central essencialmente romântica, tendo ainda fatos históricos do Brasil como pano de fundo. A novela fez grande sucesso e foi muito elogiada, tanto pela trama bem desenvolvida com personagens marcantes, quanto pela produção caprichada.
Já “A força do querer”, poderia ter rendido a autora Glória Perez um segundo troféu. Maior sucesso de 2017, a trama que contou a história de Bibi perigosa (Juliana Paes), Jeiza (Paolla Oliveira), Ritinha (Isis Valverde), Ivana/Ivan (Carol Duarte), Joyce (Maria Fernanda Cândido), Nonato (Silvério Pereira) e tantos outros personagens marcantes, arrebatou o público, colocando nos trilhos a audiência do horário das 21h que andava em queda. A novela se consolidou, na opinião de muitos, como a melhor em muito tempo, mais especificamente, a melhor desde Avenida Brasil.
Entre as duas, mesmo que “A força do querer” tenha obtido uma maior repercussão e visibilidade, talvez Novo Mundo tivesse mais chances. É uma novela de época, em que a qualidade de cenários, figurinos e demais elementos visuais se sobressaem. No entanto, nenhuma das duas foram indicadas, mesmo com todas essas qualidades apontadas. Será que os critérios ainda são os mesmos?
Diferentes fatores podem ter levado essas obras à condição de ignoradas no Emmy. A concorrência pode ser um fator, ou seja, produções de outros países podem e devem estar investindo mais. Um outro fator, talvez tenha sido a falta de novidade nas produções da globo. Ainda que sejam novelas de qualidade, em termos artísticos. Provavelmente, a academia que avalia os produtos inscritos na premiação, queiram ser surpreendidos com algo mais original.
Mas se nem mesmo Bibi Perigosa e Ivana, com suas trajetórias, e a divertida abordagem à história do Brasil com personagens como Maria Leopoldina e Dom Pedro I tenham sido capazes de garantir um lugar para A força do querer e Novo Mundo na galeria das novelas que levaram um emmy, o que de fato faz de uma trama merecedora da estatueta? Essas são apenas suposições e questionamentos para pensar a premiação e o cenário da telenovela atual.
Quais os critérios de escolha?
É muito difícil apontar quais são os critérios adotados para a seleção dos indicados e a escolha dos vencedores. Não se sabe ao certo quais requisitos uma novela precisa preencher para fazer por merecer uma indicação ao emmy, imagine então para vencer a estatueta!
Nós, aqui no Brasil, temos nossos próprios critérios para definir uma novela como boa ou não e esses variam de pessoa para pessoa, de crítico para crítico e entre públicos tão diferentes e diversos. O que se pode fazer é sentir a repercussão, a popularidade e conferir a audiência de determinada obra, elementos que ajudam a especular quais produções possuem condições de concorrer a um prêmio como esse. No entanto, em muitos casos, percebe-se algumas escolhas grosseiras feitas por quem decide premiações como essa, já que quase sempre essas avaliações são feitas com base em um recorte mínimo do todo de uma obra, o que em muitos casos, pode não ser o parâmetro ideal para definir a sua qualidade.
Analisando as vencedoras dos anos anteriores, percebe-se uma gama de novelas bastante diversificadas, no entanto, o que se sobressai em todas é o forte apelo estético. Há quem diga que os avaliadores privilegiam a beleza das produções, dos figurinos, cenários, fotografia, a qualidade visual de maneira geral em detrimento ao roteiro e o desenvolvimento da trama. Entretanto, Velho Chico, novela que encantou pela beleza de suas imagens, não venceu no ano passado. Para refletir sobre esse ponto de vista, podemos tomar como exemplo o caso da premiação do ano de 2013, em que o Brasil esteve concorrendo com Avenida Brasil e Lado a Lado.
A novela de João Emanuel Carneiro foi sucesso absoluto em 2012 e considerada por muitos um verdadeiro fenômeno que saiu de cena com a fama de ter parado o país. Lado a Lado de João Ximenes Braga e Claudia Lege, por sua vez, jamais alcançou a mesma repercussão, mesmo tendo um público fiel e cativo. A produção da novela das seis era de encher os olhos, apresentou grandes interpretações, mas dividiu opiniões em relação à história que pretendeu contar e a forma com que a desenvolveu. Ainda que se reconheça as qualidades de Lado a Lado, é inegável que se dependesse da maior parte dos brasileiros, Avenida Brasil teria vencido o emmy naquele ano, mas para quem escolhe os premiados, Lado a Lado era melhor e por isso acabou ganhando.
Caminho das Índias dividiu opiniões, mas era inegável o capricho de sua produção. Jóia rara encantou pelo apelo estético, mas não arrebatou o público. Mesmo assim, ambas ganharam. Império foi considerada por grande parte da crítica como uma novela mediana, cheia de altos e baixos, mas levou um emmy. Verdades Secretas uniu audiência e crítica, agradou pelo visual cinematográfico, e conquistou o público com uma trama envolvente. O que pesou neste caso? Que fez O astro levar um prêmio? Qual o critério de escolha afinal? Difícil dizer. Podem ser muitos.
Talvez esse seja o momento de a Globo sair da zona de conforto e repensar sua produção na área de teledramaturgia. Evidentemente, não se trata de uma ameaça ao reconhecimento da emissora como maior produtora de novelas do mundo. O sucesso das novelas brasileiras mundo afora garante isso. Talvez não ter nenhuma produção indicada na categoria de novelas esse ano não signifique muita coisa, entretanto, faz disparar um alerta: outras produtoras estão investindo, estão se aprimorando, estão em busca de maior prestígio e é de extrema importância que a Globo se atente a isso, buscando fazer uma reavaliação, lançando-se em novos desafios, investindo em novas ideias, buscando oferecer novelas, séries, minisséries ou superséries com a qualidade que se espera.
Concorrem hoje
O Brasil tem ao todo seis indicações ao Emmy Internacional 2018. Indicada em apenas uma categoria, a de melhor minissérie ou telefilme, a Globo concorre com “Aldo: mais forte que o mundo”, filme exibido em formato de minissérie no ano passado, protagonizado por José Loreto.
Estão concorrendo ainda, a série da Fox, “1 contra todos” nas categorias melhor série dramática e melhor ator de série com a interpretação de Júlio Andrade. Denise Weinberg concorre como melhor atriz por seu trabalho na série “Psi” da HBO. O GNT concorre na categoria de documentário com “Eu sou assim” e com o programa “Palavras em série”, como o melhor programa de arte.
Atrizes também ficam de fora
Lamenta-se ainda que nenhum ator ou atriz tenha sido indicado por sua interpretação. Juliana Paes, Marjorie Estiano (Sob Pressão), Letícia Colin, Viviane Pasmanter, são alguns bons nomes que renderam desempenhos excelentes no ano passado.
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