Exclusivo para O Canal: “Se o programa vai mal, a culpa é do diretor”, afirma Homero Salles
Homero Salles é um dos diretores mais respeitados do Brasil. Grande parceiro do apresentador Gugu Liberato, o profissional esteve no comando de programas de sucesso, como o Domingo Legal, Viva a Noite, Domingo no Parque, Domingo da Gente e o Programa do Gugu.
Hoje é diretor da GGP Produções, propriedade do comunicador Augusto Liberato. Locomovendo-se entre Brasil e Portugal, Homero tem trabalhado para apresentar novos conteúdos, estudado para conhecer um pouco mais do universo tecnológico, além, é claro, de acompanhar como telespectador os programas de televisão em diversos lugares do mundo.
Homero Salles conversou com exclusividade com O Canal e falou um pouco da sua carreira. Confira a entrevista completa abaixo:
OC – Homero, o senhor é um dos diretores mais prestigiados da TV brasileira. Como você lida com todo esse sucesso nos bastidores?
HOMERO – Ser prestigiado é relativo, pois o seu prestígio está sempre atrelado ao prestígio do programa que você dirige. Tive sorte em participar de programas vitoriosos e contar com o reconhecimento do público-alvo. Obviamente as cobranças vêm na mesma proporção e eventuais quedas de audiência fazem com que as pessoas mudem a maneira de avaliação do seu trabalho. Mal comparado, o prestígio de diretor de programas é o mesmo que de técnicos de futebol. Se ganha, o mérito é do time, mas se perde o culpado é sempre você.
OC – Qual sua função neste seu atual trabalho e quais são os desafios?
HOMERO – Hoje estou a frente da GGP Produções, uma produtora independente, situada em Alphaville e que pertence ao Gugu. A produtora existe há 18 anos e produziu inúmeros cases, como a Escolinha do Barulho, Raízes do campo, com Chitãozinho e Xororó, para a Record, Fábrica Cinco para a Gazeta, SBT Rural e tantos outros… O desafio é preparar a produtora para atender a nova televisão, cross media e Streaming.
OC – O senhor escreveu um texto no Linkedin falando sobre trabalho em Portugal. Qual a diferença dos programas portugueses em relação aos brasileiros?
HOMERO – Estou há pouco tempo em Portugal, mas já percebi a evolução que ocorreu neste país nos últimos anos. Durante muito tempo existiu apenas o canal estatal, a RTP. Hoje na TV aberta temos TVI e SIC competindo também pela audiência e com uma nova TV oriunda do cabo, a CMTV, nos calcanhares das grandes. É inegável a influência que a TV brasileira teve no desenvolvimento de programas e novelas, porém hoje em dia Portugal caminha pelas próprias pernas, tem novelas e diretores premiados internacionalmente e exporta atores e atrizes para o brasil.
OC – Como é sua relação com o Gugu?
HOMERO – Gugu é e sempre será meu melhor amigo, dentro e fora da televisão. Essa amizade já ultrapassou quatro décadas e nossos filhos, que tem idades próximas, foram criados juntos, viajando, estudando, enfim, considero-os minha família e o Gugu um irmão. Crescemos juntos na televisão e passamos juntos os bons e os maus momentos… No inicio, época do Viva a Noite, juntávamos os trocados que tínhamos no bolso para ir ao grupo Sergio, um rodízio de pizzas… éramos ambos produtores e o Gugu em inicio de carreira.
OC – GGP Produções tem ganhado muito espaço no brasil. o seu conhecimento de mercado facilita o fechamento de bons negócios?
HOMERO – A GGP Produções é diferenciada… Seus estúdios têm uma qualidade muito alta e acima dos padrões de outras instalações do gênero. Hoje em dia locamos estúdios para várias produtoras de conteúdo, para filmagens e produções de áudio visual. Em 2017 fizemos um amplo trabalho de divulgação, de semeadura mesmo e agora estamos colhendo. Quem utiliza a GGP Produções, volta e recomenda… Queremos sempre manter a produtora no top.
OC – Qual a diferença do Homero Salles diretor de vários programas do Brasil nas décadas anteriores para o Homero Salles diretor da GGP Produções?
HOMERO – (rindo) Diferença? T O T A L… A televisão te deixa doido, muita adrenalina e como sempre fui diretor de programas ao vivo, o que é considerado nível de stress de controladores de vôo ou pilotos de Fórmula Um, dirigir a GGP é mais calmo e permite controle a distância via internet e com reuniões por skype.. Porém quando temos produtoras utilizando os estúdios, estou sempre presente no Brasil, assegurando que tudo corra sem problemas.
OC – Atualmente, o Gugu tem apresentado formatos internacionais de sucesso, assim como ocorreu com a Xuxa, Marcos Mion e irá acontecer com Sabrina Sato. Você acredita que esse é o futuro da televisão ou ainda acha que há espaço para esses apresentadores terem atrações de mais de três horas como antigamente?
HOMERO – Essa é uma pergunta que cria um conflito para mim, pois nunca fui diretor de formato. A vida inteira eu iniciava a semana com uma folha de papel em branco e dependia de ideias próprias, pautas sugeridas pela produção e ideias do Gugu para montar um programa. Hoje em dia, os diretores têm uma bíblia estrangeira, com todos os detalhes discriminados e pouca ou nenhuma margem para criar ou divergir do que é apresentado. Por outro lado, formatos testados dão uma relativa segurança para as emissoras. No momento os formatos estão em alta, mas acredito que sempre haverá um espaço e demanda para o programa autoral. A criatividade brasileira não deve nada ao que vem de fora… Acontece que valorizam mais o que está escrito em inglês, holandês, ou até em esperanto.
OC – Você trabalhou no SBT e na Record. Quais são as diferenças e semelhanças de ambas? O que as duas emissoras podem melhorar para o futuro?
HOMERO – Ambas se assemelham na programação de “guerrilha”, ou seja, investindo no aproveitamento de espaços livres ou menos fortes da emissora líder. Mas essa mesma semelhança, infelizmente, se repete nos conteúdos dos programas, que acabam ficando iguais. Talvez uma pitada de ousadia, sair do lugar comum, como tantas vezes eu e o Gugu fizemos, poderia levar a resultados diferentes. Mas é um risco que dificilmente as emissoras gostam de correr.
OC – As redes sociais e os sites de streaming já são uma realidade. A GGP Produções tem algum projeto para ganhar mais espaço nestas ferramentas?
HOMERO – As pessoas têm de estar preparadas para conviverem com o streaming, cada vez mais presente em nossa vida. A televisão não vai acabar, mas a TV a cabo terá de se reinventar, pois a nova geração com certeza não irá pagar altas mensalidades para ter acesso a conteúdos…. É uma geração nativa digital. O celular é a ferramenta utilizada e o streaming o grande provedor de entretenimento e informação para eles. Eu estudo muito e tento estar sempre a par dessa revolução de cross mídia para manter a GGP Produções na vanguarda.
OC – Muitos jornalistas especializados dizem que o senhor é uma pessoa bastante sincera. Alguma vez o senhor foi prejudicado por ser muito sincero?
HOMERO – Claro que sim. Paguei caro muitas vezes por cometer “sincericidios”… Meus superiores que o digam..!!! Porém, isso me ajudou a conquistar o respeito de meus pares, meus produtores sempre foram diferenciados e respeitados.
Em todos os meus trabalhos, procurava contratar pessoas que de alguma forma, em algum aspecto, fossem melhores do que eu… Que soubessem e dominassem áreas em que eu pudesse aprender com eles… Isso tornava minhas produções diferenciadas, respeitadas e reconhecidas.
OC – Homero, obrigado por conceder a entrevista. Deixe uma mensagem aos nossos leitores.
HOMERO – Vejam a televisão, pelo que ela é… Uma caixinha onde pagam doidos para darem vazão aos seus sonhos e delírios. Não esperem que a televisão eduque ou instrua… Ela existe para te divertir. É o que eu penso… Que venham as pedradas…rs
*As respostas de Homero Salles foram postadas na íntegra sem qualquer alteração
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